Parir, gestar, maternar e politicar: o que as doulas e política têm a ver?

Fotografia: Alê Rocha Ato pela sanção da Lei das Doulas RJ, junho de 2016.

Por Morgana Eneile, para Vidadedoula.com
Novembro de 2020


Se o preço do pão e da carne tem a ver com a política, imagina se a saúde vai bem ou mal!

Como desejar que as maternidades e serviços básicos para uma boa gestação e modos de parir funcionem sem saber quem e onde essas decisões sobre elas são tomadas?

Cidadania é um direito. Não é uma obrigação. Mas, não exercer a sua parte, combina com uma profissão que tem por princípio de existência ser anti-hegemônica? 

A profissão de doula surge num contexto de desconstrução um modelo que levou as últimas consequências a visão do parto como um evento patológico, controlado a partir de perspectivas das técnicas da medicina em contrário à fisiologia humana e o conhecimento do feminino. Um retorno ao olhar sobre a natureza e sobre a possibilidade de que o apoio e a informação sejam partes relevantes de promoção do bem-estar. 

A política não é um evento eleitoral. É um processo cotidiano. Envolve uma postura ativa de acompanhar as decisões que são tomadas todo o tempo por pessoas eleitas para isso em diferentes esferas. Nas cidades, nas câmaras pelas/os vereadoras/es e nas prefeituras, pela/o prefeita/o e as/os gestoras/es que coloca nas diferentes áreas que estabelece para gerir os serviços e políticas em prol do desenvolvimento da cidade e dos que vivem nela. As/aos parlamentares cabe fiscalizar o que o executivo faz, acionando diferentes recursos como o tribunal de contas, o ministério público e demais partes no sistema judiciário. 

Esse sistema se reproduz em todos os níveis do nosso sistema chamado federativo, em que estados e municípios têm relativa autonomia em seus papéis, junto ao poder da União – nome que se dá ao poder central. E aí tem uma divisão do que cabe a cada um destes níveis, tanto em matéria de criar leis e normas, tanto em que serviços dirige.

Por isso, coisas que nos interessam como a Política de Humanização ou ainda a Rede Cegonha, são iniciativas federais que os gestores municipais aderem ou não, conforme a decisão do nível responsabilidade. Na saúde é assim, somado ao controle social em que usuários dos serviços podem e devem auxiliar na definição que vai desde que políticas são prioridade na saúde a como o dinheiro deve ser aplicado.

 

E a eleição? Partido importa? Então… aí vem uma senha importante. Partidos deveriam de expressar o pensamento dos grupos existentes na sociedade, desde o nível local ao nacional, através de programas partidários que afirmam o que são e o que pretendem. Inclusive, parte dos recursos que recebem para existir são voltados para a promoção destes valores, estimulando a reflexão sobre o processo democrático e as diferenças. Mas, me diz: se não há eleição, quantos convites para conhecer um conteúdo da política partidária qualquer, você, ser humano ‘comum’, já recebeu? Conhece alguma fundação de algum partido cuja a finalidade seja a reflexão e produção de conteúdos políticos a qualquer tempo? 

Elas existem e muitas produzem material de qualidade. Você sabia que a pesquisa que deu origem a expressão 1 em cada 4 mulheres já sofreu violência obstétrica é oriunda de uma pesquisa coordenada e realizada com uma Fundação partidária? Pois é! A Pesquisa Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado é um produto da Fundação Perseu Abramo, vinculada ao PT, com o SESC/SP, publicada em 2011. Como esta, tanto a Perseu como outras fundações têm outras tantas publicações de interesse para diversos temas com de interesse da sociedade.

Sem querer dar conta de explicitar aqui tudo que envolve um sistema político ou a Política como sistema, a ideia é da necessidade de abrimos espaço para reconhecer o papel dela no cotidiano e no exercício da vida como Doula e mesmo como mulher/indivíduo que deseja outras formas de ser, existir para gestar, parir e maternar. Suas escolhas movem o mundo, seja lá quais forem. Neste momento eleitoral, te convido a refletir sobre como a composição da câmara e da prefeitura colabora ou não com um cenário mais ou menos promissor para a atenção obstétrica e a nossa profissão. Seja agente do mundo que deseja, mesmo que seja a partir de um gesto e olhar aparentemente bem pequenos.